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domingo, 2 de outubro de 2011

"CATADOR, CONTADOR DE VIDA"

“CATADOR, CONTADOR DE VIDA.”
AUTOR: Luiz Santos

Naquela noite fria, o abrigo da gente nos protegia em nossas intimidades,
O vento lá fora, em nossos ouvidos zumbia
E a frágil parede de madeira do nosso casebre tremia
Com a força daquela tempestade.
Parecia um dilúvio, daqueles que seu manto negro, cobria por todo a nossa cidade.
Trovões ensurdecedores raiavam o céu com lampejos,
Ao mesmo tempo bonitos e assustadores.
Eu a mulher e a filharada, num canto da casa juntinho oravam
E pelas frestas das tábuas da parede olhávamos o que lá fora acontecia. E lá se via.
Nosso carrinho de roda bilha e fundo de uma velha geladeira,
Que de água se enchia e transbordava (como se fosse banheira)
Ele que é o nosso sustento, o alimento da nossa sobrevivência.
Papel, garrafa e latinha eram o que nos mantinha acima da linha de total falência.
Nosso medo era de perder o pouco que se tinha
E a nossa agonia aumentava, ao perceber que ao redor, tudo se alagava.
Já era alta madrugada, quando a chuva parou e a água aos poucos baixou.
Mesmo sendo assustador o temporal daquela noite,
O dia surgiu sorrindo aos primeiros raios de sol. E não houve muitos estragos.
Minha fortuna estava preservada. A família, o casebre e até o carrinho,
Resistiram àqueles momentos amargos.
Pela manhã deparamos com o solo ainda muito encharcado,
O carrinho de rodas de bilhas enterradas na lama.
Sem fazer drama, exclamei! Hoje não vou trabalhar!
Peguei algumas moedas que tinha no fundo do bolso e pedi
Para o filho mais velho, o pão ir buscar.
Enquanto a mulher o café da manhã preparava,
Eu e o restante da criançada, olhando o carrinho de fundo de geladeira,
(que parece banheira) com aquela água que Deus nos mandou e que transbordava.
Duas vezes não deram pra pensar, todos em um só pensamento,
Apenas queria ser o primeiro a chegar e nela mergulhar.
Naquela banheira que virou piscina.

É no passar do tempo que a vida nos ensina, que felicidade não tem preço
E não há dinheiro que pague, por isso, é de graça.
Ao lembrar-me da noite passada, fria e assustadora, lembrei também no ditado que diz: Que depois da tempestade vem sempre a bonança.
E reaviva esperança de um novo dia brilhar, assim como a felicidade que nos olhos da gente se via, que o tempo dedicado ao trabalho impedia no amor da minha família abrigar. Como posso protestar a sorte?
Se Deus me fez forte pra viver o desafio de toda essa experiência?
Sou catador de papel, garrafa e latinha, não de grilhões em ouro, porque meu tesouro
Fez de mim residência e na minha existência, só faço o que o destino me diz.
E hoje, não sou pobre, porque sou feliz.

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